LEPH - Revista Me Conta Essa História Nov. 2020 Ano I Nº 011 ISSN - 2675-3340 UFJ.
Por Raimundo Cezar Vaz Neto
[1] Graduado em Letras Vernáculas (Português e Literaturas da Língua Portuguesa), pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVI. Graduando em História- UFCG. Tenho interesse por pesquisas de que envolvam as cantoras do rádio do Brasil.
RESUMO
Neste artigo temos como objetivo problematizar a vida da cantora carioca Helena de Lima, a partir de muitas notas e algumas entrevistas na Revista do Rádio, que circulou de 1948 a 1970, além de outros relatos da própria artista, em vídeos em que ela é entrevistada ou fala de sua carreira no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, onde vive desde 2012. No princípio da televisão no país, ela participou e teve programas e contratos com as emissoras Record e Globo. Na TV Continental apresentou o programa Musical Bel-Fil, às terças-feiras, às 21:30. A escolha do objeto foi motivada por muitas ausências das histórias das cantoras do rádio no Brasil. A documentação selecionada no decorrer da pesquisa consta da consulta virtual a Revista do Rádio, na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional; de Abrams (2011) ao falar da entrevista como meios de acessar não apenas informações, mas significados, bem como a história oral que retira dessas entrevistas, testemunhos pessoais e histórias de vida; Finnegan (2015) e os discursos culturais com suas amplitudes; Fitzgerald (2017) e as abordagens da história oral dialogando com outras disciplinas no significado para o narrador e para a cultura. Para concretização do trabalho dialogamos com alguns autores do rádio no Brasil, a exemplo de Faour (2006 e 2015); Lenharo (1995), com suas reflexões acerca das memórias de Helena e de outros artistas que conviveram com a artista.
Palavras-Chave: Dolores Duran. César Ladeira. Boates. Boate Cangaceiro.
INTRODUÇÃO
Era difícil para uma mulher ser artista nos anos 40, sem que a família se opusesse. Não era comum, não era o que se esperava para a criação feminina, vide exemplos das aversões iniciais dos familiares de Angela Maria e Marlene, por citar algumas, além da cantora Maysa teve que romper com a família Matarazzo do seu marido na época; ou do compositor Ary Barroso, depois de gastar sua herança no Rio de Janeiro, ficou na cidade e começou a tocar nos cabarés e boates. Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e Helena de Lima foram casos diferentes de apoio familiar. Para além disso, a fama ou do destaque entre demais artistas, as engrenagens da mídia escrita da época, falava de quem vendia e os compositores consagrados, preferiam suas músicas interpretadas por artistas conhecidos.
A vida artística de Helena de Lima foi na noite e embora ela resida no Retiro dos Artistas no Rio de Janeiro, desde 2012, ela aparece sempre sorridente, entre as vídeos e fotos dos agradecimentos as doações que a casa recebe. A memória tem suas falhas, mas Helena sempre foi reservada, dando poucas entrevistas e, quando o fazia, era para falar, dentre outras, da sua amiga Dolores Duran, cantora e compositora que lhe dedicou a música Solidão, ao ouvir um relato de Helena. Na história do rádio, da TV e a da música popular brasileira, Helena não foi dos grandes shows, preferindo as boates de São Paulo e Rio de Janeiro, e, reafirmado por dois dos seus LPs mais vendidos Uma noite no Cangaceiro e Outra noite no Cangaceiro, esta boate estilizada que nada tinha de nordestino e regional, foi a casa onde Helena estava presente, que era como os móveis do lugar, como disse a Revista do Rádio, um periódico carioca, que surgiu em 1948 e findou em 1970, com direção de Anselmo Domingos. Na mesma RR, toda sorte de especulação da vida do artistas, dos discos da época, dos shows, da renovação de contratos ou do fim deles.
Não encontramos nenhuma capa com Helena nesta revista, extensão primeira dos artistas da Rádio Nacional, emissora a qual Helena começou como caloura no programa de César Ladeira e depois de famosa, participou dos programas de Paulo Gracindo, mas não teve contratos, como veremos em entrevista neste trabalho. Marina Teixeira cuida de Helena de Lima com as sobrinhas no Retiro do Artistas, foi ela também, que em 2015, gravou de forma amadora um show da cantora, no Imperator, no Rio de Janeiro, com mediação e entrevista do cantor Márcio Gomes. Marina também teve a gentileza de confirmar algumas informações deste texto, que a Revista do Rádio noticiou e outras inverdades, comuns na coluna Mexericos da Candinha, espaço de fofocas e alfinetadas na vida dos artistas. Helena dizia e diz que a noite foi sua escola artística e permanente e sua vida em entrevistas como veremos adiante, a confirmação de tais depoimentos.
A História Oral E A Gênese Da Menina No Canto
A história oral é uma prática, um método de pesquisa. É o ato de registrar o discurso de pessoas com algo interessante a dizer e, em seguida, analisar suas lembranças do passado. Mas como qualquer prática histórica, seus aspectos teóricos precisam ser considerados. Como prática de pesquisa, a história oral é engolfada por questões que a tornam polêmica, excitante e infinitamente promissora. Isso é bem explicado pelo historiador oral Alessandro Portelli (1991), que inicia um de seus estudos observando que está tentando:
Transmitir a sensação de fluidez, de inacabamento, de um inesgotável trabalho em processo, que é inerente ao fascínio e à frustração da história oral - flutuando como faz no tempo entre o presente e um passado em constante mutação, oscilando no diálogo entre os narrador e entrevistador, e derretendo e se fundindo na terra de ninguém da oralidade para a escrita e vice-versa (PORTELLI, 1991).
Portelli (1991) aponta para o poético da história oral, para sua permeabilidade, sua capacidade de ultrapassar fronteiras disciplinares e para seu caráter efêmero. Ele resume o que torna esse método de descobrir sobre o passado tão atraente e desafiador para o historiador. Segundo Lynn Abrams (2011), a pesquisa de história oral, prática e teoria - fazer e interpretar - estão entrelaçadas. A realização de uma entrevista é um meio prático de obter informações sobre o passado. Mas, no processo de elucidação e análise do material, confrontamo-nos com a entrevista de história oral como um evento de comunicação que exige que encontremos maneiras de compreender não apenas o que é dito, mas também como é dito, por que é dito e o que significa.
A prática da história oral exige então que se pense sobre a teoria; na verdade, é a prática, o fazer da história oral, que leva à inovação teórica. Lynn Abrams (2011) aborda em seu livro Teoria da História Oral, a entrevista de história oral como um meio de acessar não apenas informações, mas também significação, interpretação e significado. A história oral é um termo abrangente aplicado a duas coisas. Refere-se ao processo de conduzir e gravar entrevistas com pessoas a fim de extrair delas informações sobre o passado. Mas uma história oral também é o produto dessa entrevista, o relato narrativo de eventos passados. É então tanto uma metodologia de pesquisa (um meio de conduzir uma investigação) quanto o resultado do processo de pesquisa; em outras palavras, é o ato de gravar e o registro que é produzido. Muitos outros termos também podem ser usados alternadamente com a história oral, como pesquisa de testemunho pessoal e pesquisa de histórias de vida, e esses termos foram usados neste estudo. Mas os historiadores parecem se sentir mais confortáveis com "história oral" como um termo guarda-chuva que incorpora tanto a prática quanto a produção (ABRAMS, 2011, p. 02).
Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira Helena de Lima foi descoberta pelo apresentador César Ladeira, em um de seus programas na Rádio Nacional, em meados dos anos de 1940, onde ela passou a se apresentar como caloura. Em 1948, a artista trabalhava como crooner na boate Pigalle, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Durante a infância, Helena escutava o rádio e assim como outras colegas tinham seus ídolos, ela também tinha os seus, que eram Orlando Silva e Francisco Alves. A mãe de Helena a colocou para estudar canto e piano, mas não deu certo, pois a professora queria que ela estudasse o erudito e ela, o popular. A primeira vez que cantou como caloura, foi em 1939, aos 13 anos, no programa Gente Nova, da Rádio Nacional, saindo vitoriosa com o prêmio de 50 cruzeiros (Matarazzo, 2016). De acordo com o Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB), depois da fase de crooner, ela gravou seu primeiro disco 78 rotações em 1950, pela gravadora Todamérica, com as seguintes faixas: Martírio (Humberto Teixeira/Oldemar Magalhães) e Cachopa (Luiz Antônio/Jota Júnior/Paulo Gesta).
Helena De Lima E Artista Na Revista Do Rádio: Recortes, Informes E Publicidade
A revista de maior destaque para os artistas do rádio e depois da TV era a Revista do Rádio do Rio de Janeiro. Com direção de Anselmo Domingos, este periódico circulou de 1948 a 1970, explanando sobre a trajetória de Nora Ney e Jorge Goulart, o historiador Lenharo (1995) vai lembrar o início deste periódico, como um espaço único para os assuntos dos artistas, onde tudo era motivo de curiosidade, interesse e informação. A revista cresceu no início dos anos 50 e chegou a ser a segunda de circulação, perdendo apenas para a revista O Cruzeiro. No mesmo gênero da vida dos artistas surgiram outras revistas, como Radiolândia e Cinelândia. A RR com suas colunas musicais, capas ilustradas, recados dos fãs, pedidos de cartas aos ídolos, sugestão de programação, publicidade, reportagens com artistas e claro, chamadas apelativas em suas capas.
Este periódico tinha críticos musicais que se tornariam parte da futura TV brasileira, como [1] Abelardo Barbosa da coluna Chacrinha Musical que recomendava o segundo disco 78 RPM de Helena, com as músicas Oi, que tá bom tá e o baião Bodocongó, as duas de Humberto Teixeira e Cícero Nunes. O mesmo crítico recomendava as gravações dos artistas da gravadora Todamérica em 1951[2], recomendando, dentre outras, Helena de Lima cantando Martírio (Humberto Teixeira /Oldemar Magalhães) e o samba E eu sou assim. Dentre os discos recomendados para sua discoteca, estava [3] Bodocongó, gravação da Helena. Por vezes consecutivas, o Chacrinha sempre recomendava os discos da cantora e citava mudança de gravadora, como quando ela saiu da Todamérica [4] e foi para a Continental, gravando ao lado de Djalma Ferreira as músicas Vamos Balancear (Humberto Teixeira e Lauro Mata) e Samba, que eu querover (Djalma Ferreira e João de Barro).
A publicidade dos discos da loja J. ISNARD & CIA. LTD [5] que vendia em prestações, mostrava muitos dos discos disponíveis, além do 78 RPM Helena De Lima e Conjunto: Baião de Salvador e Feliz matrimônio (samba-canção). O ir e vir das gravadoras era uma constante em tempo que gravar era algo caro e difícil, toda artista precisava de uma para lançar seus trabalhos e ela teve a sua, como lembrado no Correio dos fans, que Helena de Lima pertencia a Rádio Globo, em 1951 [6]. Outra fã da artista, que se chamava Cusiosa da Silva [7], de São Paulo, pedia Helena em todas as seções da Revista. No entanto, o próprio texto da revista ponderou que era possível, mas foi coisa que nunca aconteceu. Ela não foi capa, nem teve reportagens grandes e recorrentes falando de si. Helena, Angela Maria, Isaura Garcia, Dalva de Oliveira, Nora Ney, Elizeth Cardoso entre as intérpretes mais conhecidas e outras nem tanto, como Vera Lúcia e Neusa Maria, deram suas vozes aos samba-canção e aos sofrimentos de amor. Assim como o samba-canção foi influenciado pelo Bolero, o inverso também ocorreu com o Trio Los Panchos, que gravou sambas-canções como Caminhemos, Ternura Antiga, Noite de Paz, em ritmo de bolero, nos anos 60 (Faour, 2006).
Cada gravadora poderia pagar um espaço publicitário na RR e os lançamentos dos discos dos seus artistas seriam divulgados, como a Continental [8] que traziam Djalma Ferreira e Helena de Lima, com Vamos Balancear, um baião de Humberto Teixeira e Lauro Mata e Samba Que Eu Quero Ver de (Djalma Ferreira/João de Barro). Outra vez a coluna do Chacrinha Musical [9] recomendava o Vamos Balancear, de Helena de Djalma. Na primeira década da televisão no Brasil, em 1956, era noticiado outros contratos de Helena de Lima, com gravadoras e TV. Enquanto a gravadora Continental renovava o contrato [10] com Emilinha Borba, Jorge Goulart e Severino Araújo, a coluna Discos de Max Gold, dizia das recém contratadas Helena e Nely Martins.
No ano seguinte, Helena era contratada pela OVC (Organização Victor Costa) [11], em São Paulo, para o Canal 5, além da atuação na Rádio Nacional paulista. Uma das fotos de Helena na RR é de sua apresentação no programa Climax para Milhões [12] da TV Paulista. Ela era tão presente nas noites do Cangaceiro [13] com suas apresentações, que fazia parte dos móveis e utensílios da casa. A primeira reportagem [14] bem ilustrada, em duas páginas com Helena surgiu com a seguinte chamada: "HELENA DE LIMA EXPLICA PORQUE PREFERE CANTAR EM BOATES", em que se falava de seu nascimento em 17 de maio e que desde cedo, tornou-se cantora da madrugada. Na época, ela estava com quatro meses de programa no Canal 9 Continental, mas não sem antes lembrarem sua trajetória artística, que começou no tempo em que era crooner do Cassino do Copacabana Palace. Embora na TV, ela lembrou que era na noite que se sentia melhor. Rememorou seus dois discos pela RGE, mas não queria fazer excursões, mesmo tendo recebido convites para Portugal e Venezuela. Ela dizia ter um compromisso com a noite carioca e teve.
Quando perguntada por qual razão ela não tinha contrato com uma emissora, ela disse que foi levada a Rádio Nacional uma vez por Lúcio Alves, seu amigo, mas o cast estava fechado. Depois disso, afirmou que não pode voltar mais, mesmo assim, participou muito do Programa Paulo Gracindo na Nacional [15]. Esta emissora, segundo Lenharo (1995), proibia seus artistas de se apresentarem na TV, sem permissão expressa o que era prejudicial em partes para o artista, pois a TV era importante na divulgação das músicas de carnaval. Ela não tinha desejo de grandes viagens, gravações, mas de continuar cantando e que seus amigos compositores não o esquecessem. A despeito das trocas do seu nome, com outra cantora Ellen de Lima, ela ponderou na mesma reportagem que seu nome era de registro e, além do mais, na carreira artística, era mais antiga que Ellen. A RR ainda mencionou que alguns empresários erravam e trocavam correspondências com uma ou outra. Helena afirmou que o problema não era por sua causa. Ela não respondeu qual artista era mais famoso que ela, safando-se da pergunta, como asseverou a própria RR, mas o mesmo periódico concluiu que ela era um verdadeiro ídolo da noite.
No quadro Almoço com as Estrelas [16] ao menos sete artistas participavam, ao vivo, seguido da apresentação dos calouros, a opinião do público sobre os musicais do programa, e, por fim, o Bar de Melodias, com Helena de Lima, Elza Laranjeira, Adílson Ramos, Elza Soares. Para se fazer o melhor, na reportagem, dizia o apresentador, que para uma boa programação era preciso trabalho, talento e dinheiro. O programa de Aérton anunciava que o fã [17], era que fazia propagar a carreira do/da artista e iria aparecer em seus programas, ao lado do seu ídolo, lembrando que Helena seria uma das homenageadas. Aérton Perlingeiro [18] falava que o seu programa na TV Tupi, o AP-Show era o “melhor da televisão” e o era, segundo ele, pois tinha em um dos quadros o Bar de Melodias, com artistas como Peri Ribeiro, Helena, Elza Laranjeira e outros.
No ano de 1963, a escolha dos Melhores da Televisão teve lista publicada com os escolhidos [19] em várias categorias, como era comum, sendo o cantor Cauby Peixoto e a cantora, Helena de Lima, os escolhidos da TV. Os Melhores do Rádio também foram listados, onde o melhor cantor foi Nelson Gonçalves e a cantora, Angela Maria. Ao indagarem o compositor Fernando César [20] quem seria os maiores cantores do Brasil e do mundo, respondeu que no Brasil era Agnaldo Rayol e Helena de Lima e no exterior, Frank Sinatra e Ella Fitzgerald. Duas cantoras faziam a boate Cangaceiro encher, elas eram: Luciene Franco e Helena de Lima [21]. Quando Luciene terminou a temporada, a coluna Depois da meia noite disse que Helena continuava na mesma boate e que Ted Moreno era o novo contratado [22].
Outra coluna bem variada em suas notas, era o Correio dos fãs. Berto e Sidney [23], supostos fãs, pediam uma reportagem "24 Horas na Vida" de Helena de Lima, que era uma série de fotografias e textos do dia a dia do seu artista, em várias tomadas do seu dia a dia, o que fazia em casa e com quem convivia. Não encontramos referência que esta reportagem tenha saído. Em seguida, Depois da meia noite lembrava que Helena estava agradando no Cangaceiro e estava há tanto tempo, que deveria ser sócia. No mesmo número, lembraram que depois da contratação do cantor Cauby Peixoto e da atriz Tônia Carrero, a cantora Helena de Lima assinou com a TV-Rio (Globo), sendo chamada de esplendida [24] pela RR. Em outubro [25], Rildo Hora era o novo contratado do Cangaceiro e Helena, "atração máxima". Em 1964, outro contrato na mesma emissora assinado por Helena, Dóris Monteiro e Elza Soares [26]. Confessando aquilo que o fazia feliz, deixava entediado entre demais afirmações, Osvaldo Sargentelli dizia que se desgostassem de Sílvio Caldas, Helena de Lima, Jamelão, Monsueto, Isaura Garcia e demais artistas que ele respeitava [27].
Em uma entrevista com Helena [28], em que a RR afirmava da potência de sua voz, mas que surgida em um tempo da aparição de Angela Maria, ela também não quis deixar as boates, ambiente que muito a agradava. Falou de sua passagem pelos programas de auditório da TV Continental, mas preferia os aplausos de poucos. A reportagem lembrou um sumiço da cantora na noite, supostamente por casamento ou viagem ao exterior, mas que ela negava, dizendo que o cansaço dos trabalhos constantes na noite, além de afastá-la dos amigos, dizia-se pronta para voltar, “agradecida a Deus” diariamente ao acordar e que a cada manhã e tinha uma canção, espelho de sua existência, ao lembrar Estão voltando as flores (Paulo Soledade), com o verso "Vê, estão voltando as flores". Encerrando em um tom de recomeço, Helena concluía dizendo que mesmo depois de uma noite de tormenta, as flores sempre voltavam.
Carlos Imperial [29] alertava aos artistas novatos que se atesem a publicidade de suas respectivas gravadoras na divulgação dos seus discos e não peregrinassem de madrugada, na porta das rádios do Rio de Janeiro, pedindo para tocar suas gravações, lembrando do risco de desgaste do prestígio e ponderando que artistas como Helena de Lima, João Gilberto, Cauby Peixoto e Agnaldo Rayol não tinham determinada prática.
Os Mexericos Da Candinha Sobre Helena De Lima, Seus Pares E Os Discos Mais Vendidos Da Artista
Os Mexericos da Candinha [30] era uma coluna de fofocas e curiosidades da RR, Helena era tema de algumas notas e insinuações como quando lembraram que a feijoada [31] de Dolores Duran estava engordando a turma de amigos, dentre eles: Helena, Neusa Maria, Lúcio Alves e o Nanai. Richa entre as cantoras ou apenas calúnia, que Helena e Marisa Barroso eram inimigas cordiais, por causa da boate Cangaceiro e arrematava: "Vamos acabar com isso, queridas?" [32]. Um suposto romance da cantora dizendo que ela não ia para lugar algum sem seu amor [33], tempos depois, insinuava que a artista [34] não deixava de ir à praia, mesmo com o frio que fazia, dizendo saber que era promessa.
Outro suposto desentendimento [35], Candinha perguntava por que Carminha Mascarenhas e Helena não se davam [36]. No número seguinte da RR, dizia que elas não se davam por questões financeiras de cachê em determinada boate, sem citar qual [37] (supostamente o Cangaceiro). O passeio vespertino de Helena, com rolos de plástico na cabeça, fez surgir uma alfinetada de Candinha, dizendo que ficou esquisito [38]. No ano seguinte, depois de reclamar da aparência da artista, insinuava que o amor era o motivo pelo qual Helena ia ao cabeleireiro diariamente [39].
Na década de 60, também houve notas e recomendações dos LPs da artista, como o lançamento pela RGE do segundo trabalho da artista pela gravadora [40], O céu que vem de você. Em agosto do mesmo ano [41], ela mudava de gravadora para lançar Vestida de Adeus. Na seção discos da Continental [42], divulgavam a capa ilustrada do Vale a pena ouvir... Helena. O concurso Um milhão por uma canção produziu um LP, com música de abertura com o mesmo título do concurso, de autoria de Luiz Antônio, interpretada por Helena. Outros artistas também participaram como: Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Agnaldo Rayol. A RR dizia que era um LP tinha boas canções, mas que muitos dos arranjos eram enfeitados demais e era somente para impressionar [43].
O LP Outra noite no Cangaceiro (RGE) foi elogiado, dizendo que provavelmente o segundo disco seria o sucesso do primeiro destacando as faixas Rosas, que envolvia as canções O Amor e a Rosa (Ayres da Costa Pessoa "Pernambuco"/Antônio Maria), Rosa Amarela (Capiba/Carlos Penna Filho), Das Rosas (Dorival Caymmi) e a última canção Sem Você (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)[44]. A RR confirmou posteriormente as boas vendas do LP Outra noite no Cangaceiro, que ficou entre os mais procurados em São Paulo, em 2º lugar, em janeiro de 1966 [45] e 4º lugar, duas semanas depois [46]. A coluna Cirandinha Noturna em 1966, lembrava Helena de Lima estreava na Boate Cave. Elogiava-se a voz de Helena e logo em seguida, mais uma vez [47], a segunda posição, no segundo lugar, dois meses depois, do Outra noite no Cangaceiro. No mês seguinte, em abril, o mesmo LP estava na 4ª posição [48] dos mais procurados em São Paulo. O LP Uma noite no Cangaceiro recebeu um “muito bom” [49] além de uma 2ª colocação entre os mais procurados em São Paulo [50].
Helena, Depoente Da Sua Carreira E Do Convívio Artístico Do Seu Tempo
Helena de Lima, Dóris Monteiro e Marlene foram uma das crooners que substituíram Carmélia Alves, quando ela foi promovida do Golden Room, do Copacabana Palace. Aos 22 anos, Helena foi aprovada no ato de sua audição, cantando Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues/Alcides Gonçalves) e depois disso, passou quarenta anos, entre os microfones e a noite. Na diversidade de atrações em boates e casas noturnas, Helena estava com Edu da Gaiata no Acapulco, July Joy e Dalva de Oliveira no Embassy e outros espaços da noite. Entre gravações, participações em programas de auditório das rádios, ensaios, festas de apresentadores e emissoras, era natural, homenagem aos amigos mais próximos, como ao compositor Ary Barroso no Clube da Chave, em 1953, com participação de Helena de Lima, Elizeth Cardoso, Angela Maria, Ivon Curi e outros (Castro, 2015).
Sobre o espaço das boates e casas noturnas menores daquele tempo, com exceção da Vogue, elas tinham cerca de 20 mesas pequenas e poucas tinham ar-condicionado e quando tinham, não havia saída para fora. O ar era o dos cigarros dos presentes, em época que fumar era algo comum. Nestas casas noturnas, Helena e o violonista Bola Sete se destacavam no Baccarat, acompanhados do trio da casa: Gigi, Chuca-Chuca e o pianista Walter Gonçalves. Outros clubes também promoviam shows de cantoras como: Angela, Dalva, Helena e Dolores Duran, que era preferida dos militares do Clube da Aeronáutica, na praça Marechal Âncora, no Rio de Janeiro. Quando Dóris Monteiro teve que deixar o Beco das Garrafas, para excursionar pelo país, foi Helena que a substituiu. Elas compartilhavam amizade, repertório e passeios pelas boates de Copacabana (Castro, 2015).
Angela Maria, Helena, Dóris Monteiro e os Cariocas, foram muitos dos exemplos de jovens recém descobertos e calouros nos programas de auditório das emissoras de rádio. A segunda, assim como Dalva, Angela, as irmãs Linda e Dircinha Batista, e outras cantoras profissionais dos anos 30 aos 50, não queriam ser compositoras de suas interpretações e estavam satisfeitas com as músicas recebidas por outros profissionais. Era sem sentido pensar Ary Barroso cantando sua composição Risque e não Linda Batista. Claro, havia compositores e cantores, como: Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga e Ataulfo Alves. Em março de 1955, Dolores sofreu um infarto, aos 24 anos. Depois de 15 dias no hospital, foi orientada que tivesse moderação no cigarro, trabalho e uísque. Orientação prontamente ignorada, afinal, Dolores retornou aos programas de César de Alencar, Manoel Barcelos e Paulo Gracindo, todos na Rádio Nacional e a revezar-se no Baccarat com Dóris Monteiro, depois, com Helena de Lima (Castro, 2015). Diante de todas as gravações que fez, Helena compôs apenas duas canções, Ausência (Helena de Lima/Maria Eugênia) e Sinfonia do Carnaval (Helena de Lima/Concessa Lacerda).
Em 2012, na época com 86 anos, Helena lembrou seu tempo de convívio com Dolores, falando da sinceridade da última, como uma mulher de poucos amigos, não era extrovertida, mas muito sincera com os amigos que considerava. Do chamado de Dolores para que elas fossem amigas e Helena disse, no mesmo ato, que ela eram, pois além do convívio da noite, Dolores chamava Helena para almoçar, oferecendo frango regado a cerveja. Ressaltou o tempo em que dividiam o palco do Baccarat, afirmando que por ser mais alta que Dolores, usava um salto mais baixo, para que ficassem da mesma altura. Ela ainda lembrou que Dolores foi sua professora, por tudo que a ensinou e que às 23h, Gigi do Acordeom, dono da boate, tinha que fechar as portas, por conta de tanta gente que ia vê-las cantar. Maysa deu um cachorro a Dolores, era uma poodle preta que se chamava Kalu, em homenagem ao baião de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Dolores viu que não dava certo criar o animal em apartamento, deu para Helena de Lima, que nesta época morava em uma casa no Leblon (Faour, 2012) [51].
Entre 1955 e 1957, a boate Jirau teve artistas como Aracy de Almeida, Silvio Caldas e Helena de Lima, além de outros músicos e compositores. A boate Cangaceiro, na rua Fernando Mendes, surgiu em 1956, de propriedade do italiano Mário, que era sócio também do Little Club. A boate não tinha nada de regional em seus cantores, que eram Maysa, Dolores Duran e Helena de Lima. De regional mesmo, apenas a inauguração com o cantor e compositor Luiz Gonzaga, de onde saiu a ideia do nome da boate e que ficou, além dos porteiros vestidos de cangaceiros, com cactos na calçada em frente e painéis de cangaço pintados por Aldemir Martins. Helena foi por muito tempo a cantora deste espaço e a boate se tornou uma das mais antigas do Rio de Janeiro. Em 1958, a música Por Causa de Você de Dolores Duran foi gravada por muitos artistas no mesmo ano, incluindo: Roberto Luna, Maysa, Elizeth Cardoso, Vera Lúcia, Angela Maria, Leny Eversong, Helena de Lima e outros (Castro, 2015).
A admiração que Dolores Duran tinha por Helena era além dos palcos e da vida comum das duas. Quando esteve em São Paulo, no dia 02 de setembro de 1957, Dolores foi conferir o show da colega no Captain´s Bar. Segundo Helena, Dolores compôs o samba-canção Solidão para ela, depois de escutar um relato da amiga. Quando Dolores estreou um programa na TV Rio, em outubro de 1958, em um cenário como uma sala de visita, ela convidava seus amigos para cantar, eram eles Helena de Lima, Luciene Franco, Vera Lúcia, além dos contratados da Rádio Nacional. Dolores morreu no ano seguinte e seus amigos ficaram surpresos, pois ela era doente, mas debochava de sua própria saúde. Helena lembra os sintomas cardíacos da amiga e disse que certa vez Dolores pediu a ela um sapato maior pois seus pés estavam muito inchados, que seriam usados em determinada noite na boate (Faour, 2012).
Quando o compositor Antônio Maria estava de volta ao Rio de Janeiro, em uma noite de 15 de outubro de 1964, ele estava conversando com um garçom da boate Rond Point, teve um infarto na calçada e por mais que tentassem reanimá-lo e o levassem para o hospital, Antônio Maria falecera. Helena de Lima, Rildo Hora e Raul Mascarenhas que estavam na Boate Cangaceiro, em frente a Rond Point, em intervalo de show, perceberam o movimento estranho e foram ver o que acontecia. Era a aglomeração da infarto fulminante de Antônio Maria. Helena ia às rádios, mas não se rendeu a elas ou a busca por músicas exclusivas e inéditas, como muitos artistas do seu tempo. se alguma música lhe agradasse e fosse do repertório de outro, agregava ao seu repertório. Por vezes, os compositores que iam vê-la no palco do Cangaceiro, lhe davam composições, eram eles: Ary Barroso, Dorival Caymmi, Luiz Antônio e Fernando César. A partir dos anos 60, a única cantora aceita para substituir Helena de Lima era Elizeth Cardoso (Castro, 2015).
Araken Peixoto, irmão do cantor Cauby Peixoto comprou a boate Drink em 1964. Ele chamou o artista e seus demais irmãos Moacyr e Andyara para gerenciar o negócio. Todo dia, por si e pelos seus, Cauby faria uma entrada musical, que antecedia show de cantoras como Angela Maria, Helena de Lima, Dalva de Oliveira ou Ivon Curi. Em menos de um ano de gestão dos Peixotos, todos estes artistas tinham passado pelo palco da Drink. No ano de 1965, com o avanço das múltiplas gravadoras no Brasil, os artistas dos anos 50 também gravaram seus sambas-canção, como: Jamelão, Nora Ney, Maysa, Isaurinha Garcia, Angela Maria, Cauby Peixoto e Helena de Lima. O passado e apogeu das boates estava restrito praticamente aos discos (Castro, 2015). Posteriormente a mesma boate estaria no comando de Helena, em 1º de julho de 1970, quando Áurea Martins foi contratada como crooner. A boate fechou em definitivo em 1972 (Neves, 2017).
No mês de maio de 1962, Helena participou ao lado de Angela Maria e Elizeth Cardoso, da inauguração da boate Ao Bon Gourmet, em Copacabana (Faour, 2015). Em 1977, o programa Brasil Especial da TV Globo, com direção de Augusto Cesar Vanucci, homenageou Dolores, com depoimentos do ex-marido, irmã, amigos. Com números musicais gravados dos amigos e artistas como Angela Maria, Elizeth Cardoso, Helena de Lima e outros posteriores, como Vanusa, Cláudia e Roberto Carlos (Faour, 2012).
Helena De Lima, A História Oral E Os Depoimentos De Quem Lhe Assiste
No Bonde Alegria com Helena de Lima, o entrevistador Jaime Ramos lembrou que ela começou a cantar no programa de calouros de César Ladeira, na Rádio Nacional. Helena afirmou que a palavra sucesso nunca lhe fez vaidosa. O Cangaceiro, para ela, era um espaço para cantar com os amigos. Lembrou dos seus fãs, que se tornaram amigos. Em seguida, um depoimento de Marina Teixeira, que se dizia fã de Elizeth Cardoso no passado e o pai, de Helena de Lima. O pai disse que iria provar que Helena era melhor e pediu que ela se vestisse para passar pela censura. Em dezembro de 1963, foi ao Cangaceiro, onde Marina afirmou que depois disso, ia ver Helena de Lima sempre, ou quando conseguia passar pela censura. De fã, uma reciprocidade de anos entre Marina, a cantora e os familiares das duas partes. Helena não lembrou de quem lhe deu o epiteto de Deusa da Noite, mas que "era bonitinho". A cantora teve uma falha de memória ao afirmar que Estão Voltando as Flores composta por Paulo Soledade para os amigos, quando na verdade, em outro momento, a história conhecida é que ele o fez para seus filhos. Para ela, uma de suas maiores alegrias foi o Clube do Guri, na rádio e depois na TV Tupi, com apresentação de Collid Filho. De lá para o dia em que era entrevistada, contou que não parou mais. O LP Uma noite no Cangaceiro, segundo Marina, foi o disco de maior sucesso na carreira de Helena e que ela cantava porque gostava e acreditava, recusando música por palavras, que a artista está à margem da música brasileira comercial.
Para a série Retiro dos Artistas: 10 Vozes, em 2016, falando do Retiro dos Artistas onde tem passado seus anos, desde janeiro de 2012, Helena disse que começou a cantar no Colégio Deodoro, pois todo fim de ano tinha festa e que era escolhida, pois era extrovertida. Desta época, cantou Cidade Maravilhosa e disse da sua ida ao Cangaceiro, na rua Fernando Mendes, segundo Helena, um ambiente tranquilo, lugar de encontrar os amigos. Depois do Cangaceiro, ela cantou na noite em festas e boates. A cantora lembrou sobre como foi composta a canção Estão Voltando as Flores (Paulo Soledade) dizendo que ele fez para sua esposa e filhos, que voltavam da praia. Musicou, foi atrás dela e pediu que ela não se preocupasse. Como foi dito anteriormente, Helena era uma cantora de locais intimistas e da noite, por isso mesmo, em mais de 70 anos de carreira, gravou pouco se comparada a outras cantoras de sua época.
Em 18 de setembro de 2015, aos 71 anos de carreira, por convite do cantor e amigo Márcio Gomes, Helena de Lima fez um show no Imperator/Centro Cultural João Nogueira, no Rio de Janeiro. O show foi gravado com uma única câmera e mais uma vez, com a participação de outra amiga e fã, Marina Teixeira. Na abertura do show, cantou Estão Voltando as Flores e, mediado por Márcio Gomes, Helena falava de sua vida artística e cantava. Neste dia da gravação no Imperator, Márcio Gomes voltou ao palco e conversou com a cantora, para que ela lembrasse o dia da estreia de Altemar Dutra. Ela contou que na época chamou o público de criança, pedindo que eles esperassem o rapaz cantar, pois iriam gostar. Quando Altemar se apresentou, segundo ela, todos gostaram. Entre as cantoras e amigas presentes no show de 2015, Adelaide Chiozzo e Luciene Franco. As histórias contadas pelos entrevistados contêm muito material útil para o historiador urbano, mas a abordagem de Finnegan (2015) é tratar as narrativas como relatos históricos que contêm convenções narrativas e que se baseiam em discursos culturais mais amplos. Uma abordagem intermediária e muito mais difundida entre os historiadores é aquela que combina o insight teórico ou interpretativo com a evidência (FITZGERALD, 2017, pp. 367-368).
Todas essas abordagens para o uso da história oral acotovelam-se lado a lado, coexistindo dentro de um campo que acomoda alegremente esse grupo diversificado de pessoas que fazem sua história conversando com as pessoas. Em suma, seria oportuno aqui questionar o motivo de precisarmos da teoria da história oral. Para responder essa pergunta, devemos levar em conta que é a prática, e não o conteúdo, que marca a história oral como algo distinto na pesquisa histórica. O historiador oral cria o recurso da entrevista e da transcrição; o fato de ser ativamente elucidado pelo pesquisador é virtualmente único na profissão. Em outros lugares, os historiadores contam com fontes históricas pré-existentes; historiadores orais fazem suas fontes.
De acordo com o Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB), os discos de Helena foram: Dentro da noite (Continental/1956); Vale a pena ouvir Helena (Continental/1958); A Voz e o Sorriso de Helena de Lima (RGE/1961); O céu que vem de você (RGE/1962); Quando a saudade chegar (RGE/1963); Só (RGE/963); Uma noite no Cangaceiro (RGE/1964); De Helena de Lima aos seus amigos (RGE/1966); Outra noite no Cangaceiro (RGE/1965); Helena de Lima eBanda da Polícia Militar do Estado da Guanabara (RGE/1968); Vale a pena ouvir Helena (Discolar/1969); Uma noite no Drink (RCA Victor/1969); Ataulpho por Helena de Lima e Adeilton Alves (Museu da Imagem e do Som, MIS/1970); É breve tempo das rosas (Tapecar/1975), Sentimentos (CD independente/2007) alguns dos quais foram reeditados em LP e CD. Nove compactos, entre as gravadoras RGE e RCA Victor. De 1950 a 1961, Helena gravou dez discos 78 RPM, que são os discos de duas faixas, uma de cada lado do disco.
CONSIDERAÇÕES
O que este trabalho pretendeu fazer foi resgatar um pouco da carreira da cantora e compositora Helena de Lima. Embora uma exceção com apenas duas composições em parceria, o que se destacou e se destaca de sua vida é o ser artista da noite, das boates e do Cangaceiro, acima de tudo. Dentro de suas possibilidades e referências dentro da Revista do Rádio e nos depoimentos escritos nas biografias de contemporâneas (os) do seu tempo, tentamos construir com a memória e a história oral, relações e possibilidades com a vida da artista. Além de ponderarmos a história oral como um desafio ao historiador, para interpretar e construir relações, compreendendo não apenas o que é dito, mas o que é dito e o que significa.
Não é apenas acessando informações, mas construindo significados, do relato narrativo de eventos do passado. Sabendo que a história oral convive com uma diversidade de pessoas, conversando com outras pessoas, como no caso das poucas entrevistas de Helena na RR e da artista falando de si e da sua vida, como uma prática e não o conteúdo, que marca a história oral como algo distinto da pesquisa histórica. Assim, na ausência de escritos acadêmicos da carreira da artista, a busca por referencias diversas de sua vida, faz deste trabalho um encaminhamento da história oral, que constrói suas fontes através do material que organiza e produz no meio escrito, através das memórias doadas por Helena e biografias dos seus amigos ou colegas de trabalho do seu tempo.
REFERÊNCIAS
ABRAMS, Lynn. Teoria da História Oral. London/New York: Routledge. 2011.
NEVES, Lúcia. Áurea Martins: A Invisibilidade Visível. Folha Seca. 1ª Ed. 2017.
BONDE ALEGRIA - HELENA DE LIMA. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0gulNq5KPHw. Acesso em: 01 ago. 2020.
CASTRO, Ruy. A noite do meu bem: a história e as história do samba-canção. Companhia das Letras. São Paulo. 2015.
DICIONÁRIO CRAVO ALBIN DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: Helena de Lima. Disponível em: http://dicionariompb.com.br/helena-de-lima. Acesso em: 01 ago. 2020.
DISCOGRAFIA DE HELENA E LIMA. Disponível em: https://immub.org/artista/helena-de-lima. Acesso em: 01 ago. 2020.
FAOUR, Rodrigo. Angela Maria- A eterna cantora do Brasil. Record. Rio de Janeiro/São Paulo. 2015.
_______, Rodrigo. Dolores Duran- A noite e as canções de uma mulher fascinante. Record. Rio de Janeiro-São Paulo. 2012.
FINNEGAN Ruth. Oral poetry: its nature, significance and social context. Nova Yorque: Cambridge University Press, p. 28. 1992.
FITZGERALD, J. M. Sinais de interseção de reminiscência no desenvolvimento e envelhecimento adulto, em Rubin, Remembering our Past, pp. 367-8. 2017.
HELENA DE LIMA – SENTIMENTOS. CD. 2007. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Q1M9ptJ4DBM. Acesso em: 01 ago. 2020.
HELENA DE LIMA AO VIVO NO IMPERATOR. 18/09/2015. Rio de Janeiro-RJ. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8GagVWrtjdM&t=1989s. Acesso em: 01 ago. 2020.
LENHARO, Alcir. Cantores do Rádio- a trajetória de Nora Ney e Jorge Goulart e o meio artístico de seu tempo. UNICAMP. Campinas. 1995.
MATARAZZO, Thais. Vamos falar do Rio de Janeiro? Editora Matarazzo. São Paulo. 2016.
PELAS ONDAS DA RÁDIO TUPI, COLLID FILHO 'CURAVA SOLIDÃO' DOS OUVINTES. Reportagem. Disponível em: https://radios.ebc.com.br/todas-vozes/edicao/2015-07/pelas-ondas-da-radio-tupi-collid-filho-curava-solidao-dos-ouvintes-0. Acesso em: 01 ago. 2020.
PORTELLI, A. O Melhor Homem de Lixo da Cidade: Vida e Tempos de Valtèro Peppoloni, Trabalhador, em A Morte de Luigi Trastulli e Outras Histórias: Forma e Significado na História Oral: Albany, NY, 1991, pp. 117–37; p. 118
PROGRAMA SÓ PRA LEMBRAR: Helena de Lima canta Castigo. 1982. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eTJevMSRh1g. Acesso em: 01 ago. 2020.
REVISTA DO RÁDIO. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro. 1948/1970. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/revista-radio/144428. Acesso em: 01 ago. 2020.
SÉRIE RETIRO DOS ARTISTAS 10 VOZES. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pFoc0WmNB6I. Acesso em: 01 ago. 2020.
NOTAS
[1] (Nº 60, 31/10/1950).
[2] (Nº 63, 21/11/1950).
[3] (Nº 64, 28/11/1950).
[4] (Nº 136, 15/04/1952).
[5] (N° 95, 03/07/1951).
[6] (Nº 99, 31/07/1951).
[7] (Nº 109, 09/10/1951).
[8] (Nº 133, 25/03/1952).
[9] (Nº 141, 20/05/1952).
[10] (Nº 360, 04/08/1956).
[11] (Nº 412, 03/08/1957).
[12] (Nº 415, 24/08/1957).
[13] (Nº 645, 27/01/1962).
[14] (Nº 690, 08/12/1962).
[15] Dez anos antes, em 1952, Helena visitava a cantora Silvinha Chiozzo (Nº. 402, 25/05/1957), irmã de Adelaide Chiozzo, na Rádio Nacional. A nota dizia que em breve Helena voltaria para as emissoras de rádio, lembrando que ela estava trabalhando nas boates. Helena não voltou.
[16] (Nº 833, 04/09/1965).
[17] (Nº 847, 11/12/1965).
[18] (Nº 686, 10/11/1966).
[19] (Nº 698, 02/02/1963).
[20] (Nº 705, 23/03/1963).
[21] (Nº 715, 01/06/1963).
[22] (Nº 728, 31/08/1963).
[23] (Nº 716, 08/06/1963).
[24] (Nº 723, 27/07/1963).
[25] (Nº 733, 05/10/1963).
[26] (Nº 753, 22/02/1964).
[27] (Nº 780, 29/08/1964).
[28] (Nº 780, 29/08/1964).
[29] (Nº 790, 31/10/1964).
[30] Encontramos em uma das notas de Candinha a insinuação de que Helena tinha comprado uma casa grande, com piscina, no valor de 120 milhões. Ponderava, da mesma forma, que ela não quis apartamento (N° 861, 19/03/1966). Marina Teixeira que leu este texto, convive com a artista desde 1964, cuida dela no Retiro dos Artistas, afirmou que nunca soube de tal compra. Lembrando que a cantora teve um pequeno apartamento de cobertura na Rua Sá Ferreira, que foi vendido posteriormente, para comprar outro mais simples na Rua Francisco Sá, em Copacabana.
[31] (Nº 421, 05/10/1957).
[32] (Nº 699, 09/02/1963).
[33] (Nº 703, 09/03/1963).
[34] (Nº 717, 15/06/1963).
[35] (Nº 729, 07/07/1963).
[36] Em 100 edições depois da RR, em reportagem que falava de uma cirurgia de Carminha Mascarenhas, ela citou um contrato no Cangaceiro, que apresentaria, exceto aos domingos, seis artistas diferentes, como: Angela Maria, Silvinha Teles, Agostinho dos Santos, Helena de Lima, Elizete Cardoso (com "e" mesmo) e ela (Nº 829, 07/08/1968).
[37] (Nº 730, 14/07/1963).
[38] (Nº 786, 10/10/1964).
[39] (Nº 840, 23/10/1965).
[40] (Nº 689, 01/12/1962).
[41] (Nº 621, 12/08/1961).
[42] (Nº 699, 09/02/1963).
[43] (Nº 752, 15/02/1964).
[44] (Nº 846, 04/12/1965).
[45] (N° 852, 15/01/1966).
[46] (Nº 854, 29/01/1966).
[47] (N° 860, 12/03/1966).
[48] (Nº 865, 16/04/1966).
[49] (Nº 819, 29/05/1965).
[50] (Nº 831, 21/08/1965).
[51] Apenas como nota de informação, segundo Marina, Helena nunca teve casa.
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